segunda-feira, 23 de maio de 2011

A cartomante

A cartomante
Em uma tarde fria de inverno Laura é surpreendida com uma batida na porta. Assustou-se, pois já fazia algumas horas que estava imersa em suas leituras que nem percebera que já havia anoitecido. Laura vivia em uma casa de dois pisos com Antonio, os dois se conheceram em uma excursão de férias. Ela tentando esquecer uma desilusão amorosa. Ele solteiro, amava os livros, programas culturais, exposição de artes... Durante a viagem haviam se aproximado, conversavam por horas, passeavam juntos, as afinidades os aproximaram e Laura desenvolveu por Antonio um grande afeto. No ano seguinte, casaram-se. Antonio era um empresário de sucesso, homem influente frequentava muitos lugares e sempre que podia levava Laura consigo. Antonio amava Laura como jamais havia amado outra mulher. Raras eram as ocasiões em que deixava Laura sozinha. O Inverno no Rio Grande do Sul estava rigoroso e Laura havia contraído uma pneumonia o que a obrigara a ficar em casa.
Foi até a porta, ao abrir Laura ficou alguns segundos paralisada, as palavras não saiam de sua boca, o coração pulsava rapidamente, sentia suas mãos frias e pensou que desfaleceria diante da imagem que via há sua frente. Parado à sua frente, depois de oito anos, estava Lucas, seus olhos pareciam mais azuis do que há oito anos, quando a abandonara, mas o que poderia ele querer agora, depois de tanto tempo? Pensar parecia tão difícil, naquele momento, como poderia lhe faltar atitude, raciocínio, logo ela que estudara tanto, que palestrava a multidões ficar muda diante de um homem. Tentou não demonstrar esse turbilhão de pensamentos que lhe ocorriam, então finalmente falou:
- Boa noite, em posso ajudá-lo? – buscava em seu tom de voz e atitude fingir que não lhe reconhecera.
Lucas ficara perplexo quando ao abrir da porta deparou-se com Laura, ela parecia ainda mais bonita, mais jovem, mais exuberante. Pensava como pode deixá-la. Pensava em suas escolhas. Deixara Laura por uma aventura profissional, buscava fama, sucesso, riqueza, mas o destino quis que ele retornasse e agora tinha que contentar-se a submeterem-se as ordens de seu chefe, Antonio. Há dois anos trabalhava para Antonio, tornara-se seu melhor amigo, como nunca viu Laura antes? Os comentários apaixonados de Antonio sobre sua esposa eram da mulher que lhe roubou o coração há oito anos, e agora a encontrara... Casada... Com seu chefe... Com seu melhor amigo. Precisava organizar seus pensamentos, teve vontade de abraça-lha, dizer-lhe que havia se arrependido e fito a escolha errada. Conteve-se.
-Boa noite! - O cumprimento conotava sua surpresa. - Vim até aqui por ordem de seu marido, pediu para verificar como está passando e pra avisá-la que retornará daqui a dois dias. Ele tem tentado falar com você, mas não atende o celular, por isso me pediu que viesse.
- Estou bem. Eu mesma retornarei a ligação de meu marido. Agradeço a gentileza. Boa noite. – E foi fechando a porta.
Lucas sentia seu coração disparar, a porta fechando que outra oportunidade teria de estar com Laura? Calçou a porta com o pé, com voz trêmula disse a Laura:
- Jamais te esqueci, ouça-me.
Laura atônita, não queria ouvi-lo, não poderia vê-lo, parece ter despertado sentimentos adormecidos.
-Vá embora, siga a tua vida, que eu construi a minha, longe de você e hoje sou feliz. Batendo a porta com força.
Lucas ficou ali parado por um tempo, pensou em insistir, mas Laura parecia tão segura. Saiu a caminhar. Havia a encontrado, há quatro anos havia iniciado uma busca por Laura, procurara por toda fronteira, lugar onde ela morara. Encontrá-la em Ijuí, foi uma surpresa, encontrá-la no momento em resolvera desistir de procurá-la. Caminhava sem rumo, quando leu a sua frente “passado, futuro, o que desejar saber, as cartas lhe darão as respostas”. Uma cartomante. Ficou parado lia e relia a frase, poderia ali encontrar as respostas, poderia ali decidir seu futuro, poderia lhe dizer o que fazer? Entrou. Uma mulher de idade avançada o recebeu, colocou as cartas sobre a mesa e começou a discorrer sobre fatos de sua vida, parecia que o conhecia. Lucas ansioso queria saber de sua amada. A mulher então falou:
- Prossiga, lute por essa mulher, tu a ama e ela te ama também, nada os impedirá de ficar juntos. Jovem segue teu coração.
Saiu dali com as esperanças renovadas, a noite lhe parecia tão quente, as estrelas brilhavam como nunca antes, pareciam confirmar o que a cartomante disse. Decidiu: Laura será minha.
Na manhã seguinte, bateu a porta novamente, Laura ainda vestia seu pijama, acordara há pouco. Ao abrir a porta foi surpreendida com um beijo roubado, Lucas a envolvera em um abraço que parecia sufocá-la, ela queria resistir, mas não havia dormido pensando nele, lhe faltavam forças para negar aquela paixão despertada no dia anterior.
Daquele dia em diante, encontravam-se às escondidas. Laura já não era a mesma e Antonio podia perceber, estava seguidamente distraída, seu compromissos haviam aumentado. Já não conseguia conciliar sua agenda de maneira que pudesse acompanhá-lo em suas viagens. O que mudara? Pensava Antonio. Teria feito algo que a magoara? Que necessidade não está conseguindo suprir? Não desconfiava de Laura, muito menos de Lucas, pois jamais se encontravam em sua presença.
A mudança de Laura era tanta que resolveu ficar mais ao seu lado, diminuiu suas viagens, procurava estar presente nos eventos em que eram importantes para Laura, a acompanha, mas isso estava sufocando Laura não suportava ter enganar Antonio, que sabia lhe amava, mas não conseguia manter-se longe de Lucas. As decisões de Antonio impediam que se encontrassem como antes, estava enlouquecendo. Então sem se importar com os riscos, seu as escondias no meio da noite. Antonio percebeu a movimentação da esposa dentro de casa e levantou-se quando chegou ao primeiro piso viu Laura saindo apressada, se vestiu rapidamente e a seguiu.
Antonio conhecia aquele percurso, muitas vezes havia dado carona a Lucas, estava atordoado, não conseguia entender o que Laura poderia estar fazendo naquele bairro. Quando viu sua esposa a porta de Lucas, o chão parece ter desaparecido de seus pés, o coração chegou à boca, a mente esvaziou-se. Voltou para casa, em sua mente a imagem de Laura abraçada a Lucas, beijos apaixonados, pareciam tão íntimos, tão desesperados um pelo outro.
Entrou em seu escritório, pegou o revólver que havia comprado depois de uma tentativa de assalto, entrou em seu carro e deu muitas voltas pela cidade. O que fazer? Estava perturbado. Parou em frente à casa de Lucas, desceu do carro, ia bater a porta quando percebeu que os amantes haviam esquecido a porta aberta. Entrou encontrou os dois adormecidos lado a lado, abraçados, desferiu dois tiros. Os amantes ficariam juntos afinal, unidos pela morte.
Antonio, permaneceu por alguns instantes observando o que fizera, matara o amor de sua vida.

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